Há quem diga que a internet vai acabar com a língua
portuguesa, ou pelo menos, empobrece-la. Outros dizem que a internet está “atualizando”
o nosso idioma. Será?
Bom, vamos conversar... Em quantas provas escolares e até
concursos públicos já caiu a questão: “Em quais casos devemos usar porque, por
que e por quê?” ou “Em quais das opções a crase não deve ser usada?” e em seguida vem as frases, uma mais cabeluda que a outra, cheias de “cascas de banana” para
te pegar ao menor sinal de desatenção. Você sai da prova cabisbaixo, se sentindo a pessoa mais
burra da face da terra, deprimido, envergonhado... e antes de virar a esquina manda uma
mensagem para a sua família, que estava em casa, esperando ansiosamente um
sinal de vida da sua parte: “mae, a prova foi a moda de camoes do jeito q
estudei, mas ñ sei pq estava tao dificil.”
Alguém não entendeu o que o jovem cabisbaixo, deprimido e envergonhado quis dizer? Eu entendi... Mesmo sem acentuações e com abreviações criadas na internet, o pensamento foi transmitido. Realmente, alguns professores de português ficariam indignados com a mensagem enviada pelo jovem –
Desde a chegada dos computadores nas residências mundiais e brasileiras, as pessoas procuravam meios de se comunicar com mais facilidade e praticidade. Começou na década de 90, na lentíssima internet discada, um software chamado mIRC sobressaiu.
Tela de conversa do mIRC 1995 |
Era bem simples, as pessoas faziam o download, criavam seus apelidos e entravam em salas divididas por temas para socializar sobre os mais diversos assuntos.
Nasceu então o internetês que até o momento não causou
alarde ou preocupação. Todos falavam “qer TC?” sem nenhum pudor.
Com o tempo, os chats foram evoluindo. Haviam sites de bate-papos bem como programas do mesmo estilo que dominaram a vida social do internauta e assim, o internetês foi evoluindo. Você virou "vc", beleza virou "blz" entre outras diversas abreviações. Estava consumado o internetês na vida dos jovens. Com o tempo, como um vírus de computador, o internetês se infiltrou em redações escolares, provas acadêmicas, revistas, jornais e mais... Com isso, veio o alarde, afinal: O que está acontecendo com a nossa língua?!
Professores em escolas alertavam seus alunos quanto ao risco
do internetês, haviam debates e reportagens na televisão, todo mundo possuía
uma opinião a favor ou contrária.
O poeta Ledo Ivo já declarou publicamente seu apoio ao “dialeto eletrônico”, nome dado pelo próprio poeta. Para ele, O internetês está longe de ser um fenômeno de mutação linguística e isso só poderá ser provado através de gerações e gerações.
O Professor Rodrigo Maia, no seu quatro televisivo do
programa LINK da Record News, disse ser: “completamente a favor do internetês,
desde que não perca a essência. Devendo saber usar tanto o internetês como a
norma culta da língua portuguesa.” Com um pouco mais de imaginação, vem José
Saramago, que no filme “Língua, vidas em português” de Victor Lopes, prevê que,
no futuro, estaremos nos comunicando com grunhidos, como os homens das
cavernas.
Na direção contrária, vem o escritor Deonísio da Silva que,
em um debate televisivo sobre o tema, classificou o “novo idioma” de “besteirol”
e rotulou o fenômeno como “assassinato a tecladas” da língua portuguesa.
Nos últimos tempos, o internetês deu outro grande passo na sua evolução. Vocês sabiam que uma empresa de televisão a cabo dedicou um tempo da sua programação para legendar filmes com linguagem de internet?
Pois é, o TELECINE Premium tomou essa atitude provavelmente para conquistar o público jovem e obter mais audiência. No comercial, eles perguntam: “esqceu o que eh ditongo? Preocupado c/ as proparoxítonas? Naum sabe ond por o hífen?” e por aí vai. Tal programação recebeu diversas críticas negativas quando foi anunciada ao público, porém, o sucesso prevaleceu e o Cyber Movie continua sendo transmitido.
Outra evolução do internetês foi a inclusão de um personagem
nas HQs da Turma da Mônica, o Bloguinho. Ele sempre conversa com emoticons e
abreviações deixando o cebolinha sem entender nada. O personagem entrou na
edição nº 221.
Não é novidade que Mauricio de Souza é um fã da linguagem da internet. Em uma matéria do Jornal do Brasil, Ele disse ter ficado fascinado com bilhetes feitos por seus filhos com o uso do internetês – A partir daí, incorporar a tendência nas revistinhas foi um pulo.
Não há dúvidas de que a língua vive em constante mudança. Veja o “vossa mercê” por exemplo, que no início era um pronome de tratamento muito formal, usado em Portugal para a corte real e com o tempo foi se vulgarizando através da população das colônias e fazendas, virando “voismecê, vossancê” até chegar ao atual “você”. Vale salientar que estudiosos acreditam que o termo “vossa mercê”, usado antigamente em Portugal, já era uma evolução do termo: “vuestra merced” usado na língua espanhola. Quem sabe se daqui a alguns anos o “vc” do internetês não seja adquirido definitivamente sem que seja considerado um erro grosseiro da língua portuguesa? Ou além, o você vire "cê"
Assim sendo, o internetês não precisa se preocupar, tampouco
seus usuários. Não cabe a nós decidir se a língua atual seguirá esse caminho ou
outro, cabe apenas ao tempo. O que hoje pode parecer estranho, daqui a gerações
poderá parecer comum, como já aconteceu... O que cabe a nós é saber onde, como
e quando usar linguagem padrão e nos divertir com a linguagem da internet. Blz glr?
Entaum té maix! Kkkk bjus. O corretor ortográfico pira no internetês.
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